SHOW DO HOMEM #6 - "Nunca escondi a minha orientação sexual"

 O entrevistado desta semana é o Miguel Boronha!

"Um estudante português, que, nos últimos 21 anos, tem tentado contar quantas estrelas há no céu."

1 - Que palavras escolherias para te descrever?

Sonhador. Às vezes, perco mais tempo a olhar para as estrelas do que a pensar nas coisas da vida. E, sinceramente, ainda não sei o que é mais importante, se sonhar, se estar acordado.

2- Quais são os teus hobbies favritos?

O meu computador preenche grande parte do meu dia, isso é certo. São várias as novidades que podemos acompanhar, blogs para ver, às vezes um ou outro jogo. Também faço exercício físico cerca de 6 vezes por semana, pelo menos sob a forma de jogging (não faço ginásio!). E, claro que, namorar, sair à noite e conviver com os amigos continuam a ser partes fundamentais do meu quotidiano.

3- Quando é que percebeste que a tua orientação sexual era "ser homossexual"?

É difícil identificar um ponto chave. Mas, olhando agora para trás, acho que foi pelos meus 14 ou 15 anos. Eu próprio achei estranho, inicialmente, a minha falta de interesse no sexo feminino, ao contrário dos meus amigos nessa idade. Comecei a aperceber-me que sentia coisas que não eram as "esperadas". Depois de cerca de dois anos de uma espécie de negação, assumi para mim mesmo que era homossexual.

4 - Como lidas com a tua homossexualidade no dia a dia (assumido ou não, perante quem/relação estável ou não, escondida ou aberta/situação no trabalho/escola)?

Lido de forma absolutamente natural com a minha homossexualidade, e em muito pouco isso afecta o meu quotidiano. Sou completamente assumido, isto é, nunca disse a ninguém que não o era nem nunca tentei fazer transparecer o contrário. A minha família próxima (pais, irmão, avó) sabe. Quanto à minha relação, é perfeitamente estável do ponto de vista emocional, porém lidamos com algumas dificuldades com os pais do meu parceiro, que não aceitam a homossexualidade do seu filho. Também na Faculdade nunca escondi a minha orientação sexual; sou estudante na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, e facto é que o ambiente nesta instituição não tem nada de asfixiante, felizmente.

5 - Como reagiu a tua família quando soube da tua orientação? 

A minha família teve uma reação óptima. Foi em Novembro de 2011 que lhes contei, e nada mudou depois disso. Têm apenas um pequeno receio que eu sofra pela preconceito que a sociedade ainda ostenta, e como tal pedem-me alguma discrição nesse sentido.

6 - Na tua opinião, como é encarada a homossexualidade pela população em geral?

No caso da sociedade portuguesa, acho que há grandes diferenças geracionais. Felizmente, as gerações mais novas parecem estar cada vez menos descomplexadas nesse sentido, mas nas gerações dos nossos pais e avós ainda há muito preconceito.

7 - Já alguma fez te sentiste discriminado por causa da tua orientação?

Já, algumas vezes até. Mas procurei nunca pensar muito nisso, seguir em frente de cabeça erguida, e lembrar-me que não posso nunca deixar a ignorância alheia tornar-se um obstáculo à minha felicidade.

8 - Alguns dizem que num casal gay sempre haverá um parceiro mais masculino e outro mais feminino. Isso é real, ou uma forma  preconceituosa de fantasiar a relação como sendo um homem unido a uma mulher?

Eu acho que é isso, uma forma de encaixarmos a relação gay num molde minimamente convencional. Mas o problema está em identificarmos alguns aspectos como femininos (sensibilidade, carinho), e depois procurarmos considerar alguém menos masculino por ter essas mesmas qualidades. Esta noção de que as pessoas têm, em particular em relação aos homossexuais masculinos, de que há um parceiro "activo" e um parceiro "passivo", e em que o primeiro é mais masculino que o segundo, é uma visão profundamente medieval, pois acho que as coisas não se medem dessa forma.

9 - Num dos teus vídeos, tu disseste que tiveste sorte com os teus pais quando lhe contaste das tuas opções. Como seria se acontecesse o oposto?

Conhecendo os meus pais como conheço, uma situação oposta nunca seria possível, e como tal não faço a menor ideia. Posso apenas imaginar que sentiria uma enorme revolta dentro de mim, pois como eu disse nesse vídeo, cabe aos pais aceitar os seus filhos, independentemente de quaisquer características que estes tenham.

10 - Ainda no mesmo vídeo referes que os pais do teu namorado "vão olhar para trás e ter vergonha disto tudo" devido á vossa relação e ás opções dele. Já tentaste por "na pele" deles e imaginar como seria ter um filho que iria contra os valores morais e éticos, neste caso á Igreja?

De facto, eu tenho a esperança de que eles um dia se sintam envergonhados da sua atitude agora, o que será bom pois prova que mudaram. Colocando-me na pele deles, penso apenas que em primeiro lugar estava o meu amor e respeito pelo meu filho, independentemente de quaisquer supostos valores morais ou éticos. As pessoas que escolhem acreditar em Deus, têm que saber separar as coisas.

11 - Quais os teus piores defeitos e as tuas melhores qualidades?

Incrivelmente teimoso, será o pior defeito, penso. Quanto a qualidades, reconheço em mim uma grande força de vontade para atingir os meus objectivos.

12 - Consideraste uma pessoa feliz?

Bastante. Tenho os meus problemas na vida, como todos, mas procuro manter sempre presente o mantra "Always look on the bright side of life" =) !

13 - Consideraste uma pessoa com personalidade forte? 

Depende. Eu considero-me um pouco camaleónico, pois deixo a minha personalidade moldar-se facilmente às pessoas com quem estou ou às circunstâncias em que me possa encontrar.

14 - Tens um blog. Qual o link? Quais as novidades ou publicações que podemos esperar para breve?

O blog é o http://rainbowsvox.blogspot.pt ! Quanto a novidades, postei recentemente o meu primeiro Vlog, e será certamente uma feature sobre a qual me irei debruçar a partir de agora. De resto, as regulares publicações das coisas que me vão na cabeça irão continuar.

15 - Depois destas perguntas todas, o que te apetece dizer?

Convido todos a passarem pelo blog e a participarem, nomeadamente aqueles que tiverem a passar por situações difíceis relacionadas com a sua sexualidade. E, claro, lembrem-se de dar apenas valor àquilo que interessa; é essencial à felicidade!